segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Regresso do Outono

Boletus erythropus - Foto: Carlos Venade

O Outono está de volta, a terra prenhe aguardando a chuva que tanto tarda, os olhos ansiosos perscrutando o horizonte em busca de uma nuvem que pressagie a vinda do tão desejado líquido, que fará com que os frutos subterrâneos se tornem finalmente visíveis. A máquina fotográfica pronta, a alma vibrante, o cesto de vime esperando no sótão, todos aguardando o momento em que o bosque se abre numa manhã, provavelmente com neblina onde se esfumam os troncos hirtos pingando gotas de orvalho como se fossem de cristal, um raio de sol que entra obliquamente e se alonga como um fio de oiro, iluminando as folhas dos carvalhos, dos castanheiros, das faias e das bétulas num último estertor de cor; cores vibrantes numa paleta pluricromática como só o Outono sabe compor. E o silêncio... o silêncio dos bosques emudecidos, o silêncio que entra pelos poros e se transforma em música na imensa sala da emoção.

domingo, 3 de abril de 2011

Alliaria petiolata

                                                                        Foto: Carlos Venade
A primeira vez que vi esta planta foi num dia que ficou para gravado na minha memória para sempre. Estava sol nesse dia de Primavera, o céu muito azul e eu, de mochila às costas carregada com equipamento fotográfico e alguma comida, acompanhado de uma colega de trabalho, fazia o reconhecimento de um trilho pedestre que iria ser marcado brevemente. Estávamos em Celorico da Beira, na freguesia de Lageosa do Mondego e a minha principal missão era a de fazer a identificação da flora e captação de imagens fotográficas. Um trabalho "horrível" para um amante da natureza e da fotografia, como podem imaginar. Após escassos quilómetros percorridos desde o início - e após ter tido já outra das melhores surpresas da minha vida, o encontro com um magnífico pé de Thymus mastichina (Tomilho-bela-luz) - vejo, mesmo  ao chegar à margem do Mondego, as folhas reluzentes enfeitadas com flores brancas que podem ver na foto. No mesmo momento, uma imagem emerge por trás da copa das árvores da outra margem, uma magnífica águia-cobreira, de asa abertas exibindo o padrão riscado característico. Claro que a minha prioridade foi para a águia porque a planta não tem asas e apressei-me a substituir a lente da câmara por uma teleobjectiva com a qual captei as minhas primeiras imagens desta princesa dos ares. Depois voltei à planta, saboreando com toda a calma possível esse encontro. Voltei a encontrar mais pés noutro local da mesma terra, sempre junto de água.
A Aliária deve o seu nome ao aroma a alho que se desprende das suas folhas. E um aroma suave, agradável. Pode ser consumida crua numa sanduíche acompanhando ouro alimento, em salada, sopa, recheios, pastas de queijo ou outro reparado culinário que a habilidade de cada um pode inventar. As sementes moídas podem também ser consumidas. A Aliária tem propriedades medicinais e é usada em casos de transtornos intestinais crónicos e eliminação de parasitas intestinais. A seiva tem aplicação em inflamações cutâneas e das mucosas. A parte vegetativa da planta é rica em cálcio, fósforo e ferro, bem como em vitamina C.
Se quiserem encontrá-la deverão orientar a vossa busca para bosques húmidos, margens de rio e regatos mas não se surpreendam se derem com ela junto das bermas de estradas que passam por entre bosques, como me aconteceu recentemente quando fui passar uns dias ao Courel, em Lugo, onde irei passar a Páscoa fotografando orquídeas (e Aliárias, claro).

domingo, 6 de março de 2011

Reichardia gaditana

Foto: Carlos Venade /Nikon D70, Sigma 150mm, f2.8 Apo Macro
A Reichardia gaditana (Willk.) Cout. é uma maravilha que encontrei recentemente nas Dunas de Corrubedo, na Galiza. Pertence à família das Compostas. O que mais me chamou à atenção foi  as brácteas com a margem membranosa e escariosa no invólucro do capítulo. Tem uma altura que pode ir até aos 50 cm, os caules são glabros e as folhas possuem os bordos espinhosos, são curtamente pecioladas, oblongo-lanceoladas, as caulinares sésseis e algo amplexicaules. A época de floração vai de Abril a Agosto. É uma planta de solos arenosos, por isso, se estiverem interessados em conhecê-la melhor, procurem-na nas praias e zonas dunares.